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quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Do Baú

Esse texto eu encontrei no PC e resolvi postar, até porque isso aqui tava meio parado. É um texto que eu publiquei na minha coluna Pensatório, na Revista MAIS, no fim do ano passado. Às vezes é bacana relembrar velhos manuscritos.


Raça, virtudes e competência

Novembro de 2008 entrou para a história graças a dois negros saxões que conquistaram, além da admiração e respeito dos seus adversários, a atenção de pessoas espalhadas em todas as partes do globo. No esporte, o jovem piloto inglês, Lewis Hamilton, da McLaren, além de se tornar o campeão mais jovem da F1, apenas 23 anos, ainda quebrou tabu e virou marco por ser o primeiro negro a correr e vencer uma temporada na categoria mais elitista do automobilismo mundial.

Já o outro “personagem do mês” foi autor de um feito ainda mais impressionante e importante para a história. Barack Hussein Obama foi eleito o primeiro presidente negro dos Estados Unidos da América. Contudo, vencer o preconceito implícito do cidadão americano não deve ser visto como principal foco da vitória. Obama fez muito mais que apenas ser um negro a ganhar de um branco nas urnas. Sob o signo da mudança necessária, ele derrotou aquilo que os americanos mais idolatram e adoram sentir orgulho em possuir: um herói. John McCain é descendente de uma linhagem nobre dentro das forças armadas, lutou bravamente no Vietnã tendo sido torturado e feito prisioneiro de guerra em nome dos EUA - mais hollywoodiano impossível. Já Obama, em contrapartida, é o avesso. Filho de um imigrante muçulmano nascido na Nigéria, ele morou na Indonésia quando criança e admitiu que usou drogas na adolescência. Advogado, trabalhou em comunidades pobres atuando muitas vezes em causas contra o próprio Estado. Não fosse o bastante, para reafirmar sua posição de anti-herói, também foi o primeiro senador a levantar-se contra a postura americana de salva-pátria na invasão ao Iraque.

Ser o do contra talvez tenha levado Obama à Casa Branca. Pelo menos, ser contra George W. Bush. Alguns especialistas políticos apontam que o presidente recém eleito é um produto do ex, graças à série de bobagens praticadas por Bush à frente da nação mais rica do mundo. E Obama também tem o mérito de estar no lugar certo na hora certa, afinal, é bom lembrar que há quatro anos o candidato democrata Al Gore recebeu nas urnas 539.898 votos a mais que Bush, mas não levou a eleição por conta dos delegados regionais, principalmente na Flórida onde a justiça impediu descaradamente a recontagem dos votos.

Obama é um exemplo cabal que não basta apenas ser competente, mas é preciso também ter a sorte de campeão, o que o aproxima ainda mais de uma comparação com Lewis Hamilton, que além de vencer quando pôde, ainda contou com as burradas seriadas da Ferrari, sua equipe concorrente.

É inegável que novembro de 2008 para sempre pertencerá a Hamilton e Obama, dois negros craques em provar o quando homens brancos podem ser estúpidos.