Pesquisar este blog

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Por uma cultura maiúscula

Rio Negro está de parabéns. Não só pelo aniversário, comemorado hoje, mas pelo incentivo à cultura erudita prestado no último domingo com a apresentação da Orquestra Sinfônica do Paraná - OSP. A cidade, aliás, recorrentemente tem dado força ao estilo, vide a apresentação da dupla de violinistas “Kaiser-Schmidt Gitarren”, realizado dias atrás. Sem contar as já tradicionais audições realizadas pelos alunos da Escola de Música Ana Madalena Bach, das quais tive o prazer de participar tanto como ouvinte quanto como integrante, cantando solo a ária nº 9 de Batien und Bastienne, de Mozart, e, em coro, uma parte da obra La Traviata, de Verdi.

O que quero ressaltar nessa coluna, contudo, é algo que venho debatendo desde 2006 quando afirmo que Riomafra, agora juntando as duas margens do rio, tem público mais que suficiente para esse tipo de evento cultural. Prova disso são as casas lotadas em todas as passagens de orquestras pelas duas cidades, sejam elas experimentais, sinfônicas ou de câmara. Não importa a condição climática nem o local, pois elas sempre agregam seu fiel público para prestigiar e viver essa música. A essas pessoas também pouco interessa qual será o conteúdo das apresentações, sejam elas de chorinho de Ary Barroso, ou tons mais sérios, como a abertura do Idílio de Siegrifid, do compositor alemão Richard Wagner, executado na noite deste dia 13, no princípio da apresentação da OSP no Clube Rionegrense.

Em relação a espaço físico para essas apresentações Mafra leva vantagem sobre Rio Negro por já dispor de um teatro que, embora seja privado, oferece uma estrutura invejável até para grandes cidades. Afinal, o Emacite é destaque reconhecido pela acústica extraordinária alcançada graças ao projeto do engenheiro Rubens Méister, que também foi responsável por construções como o Teatro Guaíra, em Curitiba. O lugar é tão bom que causa constrangimento ver a destruição de suas poltronas pelos vândalos que se disfarçam de espectadores em sessões de filmes exibidos no local. Tenho uma teoria que essa depredação é reflexo do público-alvo obtido pelos péssimos filmes, dublados, que entram em cartaz, mas isso é assunto para outra coluna.

Voltando a existência de apenas uma casa de espetáculos, essa diferença deve acabar em breve se a ideia de um Teatro Municipal, aventada pelo secretário de cultura de Rio Negro, Ayrton Gonçalves Celestino, for concretizada. Segundo ele, a participação maciça dessa parcela considerável de admiradores da ‘boa música’ é parte fundamental do processo de convencimento do Poder Executivo a realizar a construção do referido teatro, que representaria, em minha opinião, um passo importante para uma valorização ainda maior da cultura na região. Referendando a proposta, fizemos nossa parte em bom número.

Porém, não basta ter o teatro e uma plateia lotada. Precisamos pensar em um público cativo educado para cada apresentação. Seria interessante desenvolver projetos voltados a ensinar sobre a música erudita para que as pessoas saibam apreciar essas pérolas tendo um conhecimento de causa maior. É importante que saibamos como funciona uma apresentação, tendo em mente que o silêncio absoluto é importante para a concentração dos músicos e que não devemos aplaudir entre os movimentos de uma mesma música, por exemplo. Da mesma forma, seria bacana a confecção de folders explicativos com um pouco da história dos compositores representados no espetáculo, contando também sobre as escolhas do maestro para a apresentação. Isso tudo é muito simples de se fazer e, se não em folders, por questão de custo, poderia ser feita uma explicação no microfone por um mestre de cerimônias mesmo. Essas medidas deixariam o espetáculo mais interessante para as pessoas que gostam do estilo, pois transformaríamos a plateia de mera espectadora em apreciadora.

E não há como negar que o conhecimento traz um valor diferente à apresentação. Meu amigo João König, por exemplo, gosta quando os músicos executam alguma peça barroca como Bach ou Vivaldi em meio às do período clássico e, na apresentação deste domingo, ficou feliz porque a Orquestra Sinfônica do Paraná finalizou com o Molto Allegro da Sinfonia em Sol Menor nº 41 do Mozart, uma decisão que o agrada. Para entender o que isso significa, seria como pedir Toca Raul (!) e a banda realmente tocar Raul.

Se tivéssemos esse conhecimento prévio, que com certeza seria agregado a cada novo concerto, saberíamos valorizar ainda mais a participação de pessoas como o solista de trompete Heinz Karl Schwebel, um dos maiores instrumentistas do país, internacionalmente conhecido e que já tocou com maestros consagrados como o indiano Zubin Mehta. Schwebel esteve aqui, junto com a OSP, tocando de graça em uma performance que realçou a importância do evento de aniversário da cidade. Por tudo isso novamente parabéns a Rio Negro, 141 anos com propriedade de uma senhora de bom gosto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário